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Abuso Sexual: um segredo presente em muitas famílias

Em que contexto acontece o abuso sexual?

O abuso sexual é uma violência que sempre esteve presente em nossa sociedade, devido aos danos que acarreta e as recorrências serem elevadas; existem estudos, intervenções legais e sociais para prevenção do abuso.

No entanto, pesquisas apresentadas pela Unicef apontam que o número de casos só aumenta e que ultrapassa ocorrências registradas.

A maioria dos casos de abuso sexual acontece no contexto familiar e o pai sendo o abusador. Na minoria dos casos é um outro membro da família, como mães, tios, primos, irmãos mais velhos, ou ainda vizinhos e amigos próximos da família. Como normalmente existe um vículo do abusador com a criança, alguns fatores influenciam a manutenção do segredo do abuso sexual.

Motivos que mantém o abuso sexual em segredo?

No processo individual da criança que sofre abuso sexual pode-se observar a síndrome do segredo que é determinada por alguns fatores como:

  • Não é em todos os casos que a evidência médica está disponível, as marcas físicas e psicológicas são de difícil comprovação, tanto no momento do abuso como na vida adulta, o que dificulta uma prova jurídica.
  • As pessoas que cometem abuso tendem a não confessar o crime, as crianças que sofrem abuso por tempo prolongado costumam ser ameaçadas e não tem coragem de revelar, por medo do que pode acontecer consigo, com a sua família e com o abusador.
  • No caso de crianças que sofrem abuso durante um longo período, elas normalmente tentam comunicar o abuso a uma pessoa dentro ou fora da família, até profissionais que deveriam validar a fala da criança; acontece de não avaliar de forma correta, a criança passa a ser chamada de mentirosa e costuma receber castigo pela revelação.
  • O abusador tende a mentir com ameaças para a criança não contar sobre o que acontece entre eles durante o abuso, é um segredo do abusador e da criança e normalmente é reforçado pela violência e ameaças de castigo.
  • A criança sofre de ansiedade em relação ao que pode acontecer após a revelação, o abusador ameaça tirar a vida da criança ou a própria vida, que irá causar a separação dos pais, ou a desintegração da família. Culpabiliza a criança de toda consequência decorrente de uma possível revelação.
  • As crianças tendem a mentir ou negar o abuso por medo de serem castigadas e de não serem protegidas.
  • Quando a criança consegue contar sobre o abuso para algum membro da família, muitas vezes nenhuma providência é tomada e a informação é mantida em silêncio e sigilo, como se nada tivesse ocorrido ou como se fosse mentira da criança.

Como o abusador envolve a criança no abuso sexual?

O ritual do abusador para envolver a criança na relação de abuso é realizado com a intenção do mesmo de anular o ato do abuso e acontece da seguinte forma:

  • Contexto do abuso – o abusador procura criar um ambiente que anule a realidade externa do abuso. De acordo com os relatos das crianças o abuso acontece em silêncio, sem qualquer contato visual, em ambientes escuros ou fechados ou em momentos que o abusador está sozinho com a criança em casa.
  • Pela transformação da pessoa que abusa em “outra pessoa” – o abusador que normalmente é uma pessoa de confiança e do convívio da criança que sofre abuso, costuma utilizar um tom de voz alterado, uma outra linguagem e um comportamento físico diferente do habitual.
  • Ritual de entrar e sair da cena do abuso para anulação do ato – é a parte central da relação do abusador com a criança abusada como síndrome do segredo, a figura de confiança e afetuosa da criança sai desse papel e passa a ser “outra pessoa”, a que viola os seus direitos e sua integridade, sai do ato do abuso e volta a assumir o papel da figura de confiança e afetuosa.
  • Esse ritual tem a intenção de dissociar a figura de confiança (membro da família) do ato de abuso, como se dessa forma pudesse anular o abuso, esse período de tempo entre a entrada e saída do abuso e o ambiente que ocorre, leva o abusador e a criança a cortar essa experiência da realidade, como se o abuso não tivesse acontecido.

Como as crianças tentam sobreviver ao abuso?

Algumas das tentativas das crianças em anular, esquecer ou apagar da sua história o abuso sexual sofrido:

  • Algumas crianças imaginam que não são elas as envolvidas no ato, tentam perceber essa realidade como uma experiência distante e que não aconteceu com elas.
  • Outras alteram seu estado de consciência como se estivessem dormindo.
  • Uma outra tentativa da criança é de normalizar e fingir que durante a ocorrência do ato abusivo as suas partes íntimas não existem.

Desdobramentos do segredo do abuso sexual

A criança, por não conseguir contar sobre o abuso sexual, ou aquela que consegue contar para alguém da família ou para um profissional que não valida e que ajuda a família a manter em sigilo a ocorrência do abuso cresce se sentindo solitária, não compreendida e se relacionando com as pessoas em um modelo relacional abusivo, ela tem dificuldade de identificar um ambiente seguro e uma relação abusiva.

As mães que ficam sabendo que o filho(a) está sendo ou foi abusado mantém sigilo na maioria dos casos por dependerem financeiramente e emocionalmente do pai ou padrasto, por não saberem lidar com a situação, por desejarem esquecer e acreditar que nada aconteceu, por medo das consequências, conflitos familiares ou mesmo por medo de afetar a unidade da família.

Impactos na vida adulta de quem sofre abuso sexual na infância

Essas pessoas acabam em situações precárias, têm dificuldades de conseguir trabalho e relações saudáveis, devido a depreciação de si mesmo e repetidos envolvimentos em situações e relações abusivas no decorrer do seu processo, ficam com suas possibilidades limitadas e prejudicada em seu desenvolvimento psicoemocional e sexual.

Na minha experiência clínica, adultos com histórico de abuso sexual tendem a apresentar sintomas físico ou emocional como depressão ou síndrome do pânico ou envolvimento recorrente em relações abusivas, angústias, ansiedades, vitimização e agressividade que as impedem de seguir em frente em seus projetos de vida pessoal e profissional ou ainda com alguma doença psicossomática.

Qual o risco de não saber conduzir uma demanda de abuso sexual?

Com o número de ocorrências de abuso sexual certamente o psicólogo ou terapeuta familiar sistêmico receberá na clínica uma pessoa com histórico de abuso sexual. Se esse profissional não souber conduzir o tratamento, corre o risco de focar em tratar o sintoma e não tratar a causa.

É semelhante ao tratamento paliativo para a pessoa suportar o sofrimento. É como tratar uma sequela com uma medicação para aliviar a dor e não para tratar o que causa a dor.

As repercussões na vida adulta do abuso sexual que ocorre na infância ou na adolescência

O abuso sexual é uma experiência que acontece normalmente na infância e adolescência, que interrompe o curso natural do desenvolvimento psicossexual de uma vida.

O que é abuso sexual?

É considerado abuso sexual todo ato de estímulo verbal, vídeos, exposição do corpo do adulto com a intenção de envolver a criança em um contexto sexual, toques nas partes íntimas do corpo de uma criança ou adolescente realizada por um adulto para a obtenção de sua satisfação, de suas demandas sexuais, usando como objeto de prazer uma criança ou adolescente, que não tem a capacidade formativa de dar o seu consentimento.

As estatísticas mostram que a recorrência de casos de abuso sexual pode-se considerar uma crise de saúde e segurança pública. Indícios apontam que esse crime acomete muito mais vítimas do que as denúncias registradas, ou seja, a probabilidade dos psicólogos receberem um adulto que foi abusado sexualmente na infância ou na adolescência é muito alta.

Os envolvidos no abuso sexual

Na maioria dos casos de abuso sexual o abusador é um membro ou amigo da família, uma pessoa normalmente prestativa, atenciosa, alguém da confiança da criança ou do adolescente.

Pesquisas apontam o pai sendo normalmente o autor do crime, uma figura que deveria proteger e garantir um ambiente seguro e favorável para o desenvolvimento da criança e do adolescente é quem a coloca em risco, a ameaça, interfere e atua de forma disfuncional, comprometendo o processo de desenvolvimento da vítima.

No cenário do crime encontra-se o algoz e a vítima. O algoz claramente sendo enquadrado como o criminoso e com a saúde mental comprometida, com uma história de vida que talvez explique o ato, mas nunca justifica. Precisa-se discutir muito uma ação eficaz para interromper a repetição dessa crueldade.

Do outro lado uma vítima que desde a primeira fase do ciclo de vida é acometida por esse tipo de fatalidade. A criança ou adolescente esperam poder estabelecer um vínculo de confiança com quem está no papel de garantir a segurança dela, em busca de afeto encontra a estranheza, a violação do seu direito de criança e de adolescente, de crescer sem a interferência sexual de um adulto.

A beautiful blonde-haired female with sunglasses and a white shirt standing on top of a hill in nature

Impacto na vida adulta de quem sofreu abuso sexual na infância ou na adolescência

O que é possível observar na prática clínica são adultos que constroem barreiras, alguns condicionamentos, que podem ser apresentados em forma de depressão, síndrome do pânico, envolvimento em relações pessoais e profissionais de forma abusiva ou uma paralisação no ciclo vital, devido à raiva que sente de si mesmo, por não ter conseguido se posicionar.

A razão compreende que a responsabilidade é do abusador, mas o emocional fantasia que podia ter feito algo, que podia ter impedido a violência intencional do adulto.

A ferida do abuso sexual costuma sangrar de forma aleatória, sangra e respinga em outras relações, o olhar para as relações na vida adulta se confundem, o discernimento fica distorcido, o sentimento de não merecimento é recorrente, a dificuldade de se posicionar e o lugar da vítima costuma se repetir em outras situações na vida adulta.

Quem procura ajuda psicológica, o abusador ou a vítima?

Na grande maioria quem procura ajuda é o adulto que foi vítima de abuso sexual na infância ou adolescência, não costuma chegar no consultório com a queixa do abuso em si. As questões frequentemente são as apresentadas acima, para que o tratamento tenha resultado satisfatório, o psicólogo no manejo terapêutico precisa investigar e aprofundar a causa do sintoma.

O abusador costuma negar o ato criminoso, normalmente o abuso é mantido em segredo, muitas vezes fica impune. Mas quando o segredo é revelado e reconhecido, podem procurar ajuda, não costumam se comprometer no processo terapêutico, o discurso deles tende a ser acompanhado pela não responsabilização do ato.

O que o psicólogo pode fazer para ajudar a vítima de abuso sexual?

O psicólogo precisa perceber os sinais no comportamento e na forma da pessoa se relacionar no contexto familiar, profissional e social. Normalmente o paciente relata envolvimentos em relações abusivas, se sente vítima em situações de conflitos, não se sente merecedor de uma vida satisfatória, a raiva facilmente é acionada em contextos adversos, dificuldade de realizar projetos pessoais, profissionais e dificuldade de estabelecer vínculos de confiança.

Quando o psicólogo consegue identificar que o sintoma apresentado tem correlação com um abuso sexual sofrido na infância ou na adolescência, o manejo terapêutico deverá ser estrategicamente planejado para ajudar o paciente a transformar o “limão bem azedo em uma limonada doce”.

Conclusão: A cura é possível?

O ato do abuso sexual sempre será um assunto indigesto, mas é preciso falar sobre, pensar em formas de tratamento, ressignificação, os psicólogos podem ajudar no processo terapêutico da vítima. A mesma não pode impedir que o crime aconteça na infância ou na adolescência, mas na vida adulta ela pode escolher estabelecer relações respeitosas.

Acredito que o sucesso do tratamento esteja relacionado com o processo de cicatrização e superação. Uma ferida pode cicatrizar e ficar a marca da cicatriz, ao tocar em uma ferida aberta ela sangra, ao tocar em uma cicatriz você não sente, mas sempre saberá de onde veio.

A vida coloca as pessoas de joelhos, as fatalidades acontecem sem justificativas, na vida adulta o paciente pode escolher continuar de joelho ou levantar e seguir em frente, pode ser que ele peça ajuda de um psicólogo, por isso é um assunto que merece muita atenção, dedicação e aprendizado, para quando se deparar com um caso de abuso possa ter recursos e ferramentas para utilizar no tratamento.

Desenvolvimento Pessoal e Relacional Após o Abuso Sexual na Infância e Adolescência

Falar sobre Abuso Sexual Infantil costuma causar desconforto e aversão, o que colabora para que este crime continue sendo muito recorrente em nossa sociedade. Considerado pela Organização Mundial da Saúde como um problema de saúde pública, afeta aproximadamente de 7 a 36% das meninas e de 3 a 29% dos meninos em todo o mundo.

Os impactos dessa experiência traumática e inadequada, em geral, são estendidos para a vida adulta, trazendo consequências para o desenvolvimento pessoal e relacional da vítima.

O que caracteriza um Abuso Sexual?

O Abuso Sexual Infantil acontece quando uma criança ou adolescente tem um contato inadequado com questões sexuais, podendo envolver conversas, vídeos, toques, exposição das partes íntimas do corpo e o ato sexual em si. Inclui diferença de idade/maturidade e relação de poder.

Qual a diferença entre Abuso Sexual e Brincadeira Sexual?

Durante a infância, é comum e pode fazer parte do desenvolvimento infantil[MA2] a presença de brincadeiras sexuais, que envolve crianças com idades semelhantes, numa relação de descoberta das diferenças, muitas vezes impulsionadas pelas sensações que o desenvolvimento do corpo vai disparando no decorrer do crescimento. Nenhuma das partes é forçada a nada, e não há relação de poder.

Nessas experiências podem acontecer exposição das partes íntimas e toques, num ambiente de igualdade e descoberta.

Quais sentimentos são comuns à pessoa que passou pela experiência do abuso sexual?

Os relatos repetidamente envolvem vergonha, confusão e culpa. É comum que o abusador faça uso de chantagem ou dissimulação, o que deixa a criança ou adolescente confuso, e sob seu poder.

A culpa pode ser advinda dos tabus em relação à sexualidade que ainda são muito presentes em nossa sociedade, e pela imaturidade fisiológica e psicológica para lidar com as sensações advindas da experiência sexual.

Como as pessoas costumam lidar na vida adulta com uma situação de abuso sexual vivida na infância ou adolescência?

A reação mais presente no contexto do consultório clínico de psicologia é de vergonha, repulsa e dificuldade para falar sobre o assunto. É comum que não validem como uma situação abusiva, minimizando ou normalizando o fato.

Isso pode ser compreendido se pensarmos que o fato aconteceu numa fase em que o desenvolvimento fisiológico e psicológico estava em andamento, sem que a criança ou adolescente tenha condições para encontrar uma solução para se proteger contra essa violação.

Falar sobre o assunto, apesar de ser doloroso e por vezes constrangedor, pode levar a pessoa a reorganizar e ressignificar seus pensamentos e sentimentos frente ao fato. Em sua condição atual, como adulta, que pode buscar por relações respeitosas e saudáveis, aprendendo a colocar os limites necessários para tal. Porém, nada mudará o que aconteceu, apenas a forma que pode lidar com isso.

Uma analogia seria como uma ferida. Ela está feita, e a melhor opção é cuidar desta ferida para que se torne uma cicatriz. Sim, fazer o curativo pode ser doloroso, mas não cuidar, não fazer o curativo não evita a dor, e muitas vezes pode piorar o estado da ferida.

O que podemos fazer é promover a melhor cicatrização possível, para que se torne uma marca em sua história e não algo que dói ao se tocar.

Quais sentimentos costumam estar presentes nas pessoas abusadas?

Comumente os sentimentos de raiva, angústia, tristeza e repulsa estão paralisados, e precisam ser expressos e processados, para alívio e reorganização das sequelas emocionais.

A pessoa que passa pela experiência de abuso sexual tende a se envolver em relações abusivas, normalizando comportamentos inadequados e desrespeitosos, se colocando no papel de vítima de maneira automática e despercebida.

Qual a importância em se falar sobre o assunto?

Falar sobre o abuso ocorrido é um passo importante para elaborar os sentimentos envolvidos e para uma mudança de posicionamento perante a vida, desenvolvendo condições para melhorar a qualidade de suas relações, podendo sair do padrão de normalizar relações abusivas.

Como identificar se alguém foi abusado?

É possível identificar a partir de algumas pistas e comportamentos que costumam estar presentes em pessoas que foram abusadas, especialmente manter o padrão abusivo em suas relações, podendo se colocar no papel de abusador ou abusado. Estudos demonstram que um abusador foi abusado, o que quer dizer que o ciclo começou ao ser a vítima, podendo se colocar em suas relações como algoz ou vítima.

É um ciclo que precisa ser quebrado, e a revelação deste segredo, como acontece na maioria dos casos, é peça chave para este processo.

05 formas de se desenvolver como terapeuta

Ser Psicólogo, ser Terapeuta passa por muitos desafios. Ouvimos de muitas pessoas: “Nossa, como você consegue passar o dia só ouvindo problemas!”

Costumamos dizer que ouvimos com técnica, que não é uma simples escuta, é uma escuta qualificada. Claro que é desafiador e pode sim ser cansativo, especialmente quando não estamos preparados.

O preparo técnico/teórico é sem dúvidas imprescindível é o que pode diferenciar uma escuta amiga, trivial. Acreditamos que para escutar o outro de forma diferenciada é preciso aprofundar em nosso próprio processo de desenvolvimento pessoal e profissional, ampliando nossa capacidade de compreender a angústia, a dor ou disfuncionalidade da pessoa, casal ou família.

Listamos abaixo 5 formas de se desenvolver como Terapeuta, esperamos que seja útil pra você!

01. Fazer terapia

Ah!! Como é bom poder ser humano!

Simplesmente uma pessoa, que tem um espaço para ser ouvida, para se ouvir, pensar sobre si mesma. Fazer terapia é uma oportunidade para refletir e transformar as vivências em experiências, em aprendizados. Para compreender a própria história familiar, se descobrindo e redescobrindo, na constante dança entre pertencer e se diferenciar.

Um momento para ressignificar as dores e sofrimentos, acolher o que foi possível e transformar o que é preciso para se sentir uma pessoa mais leve e melhor. Acreditamos que quanto mais avançamos na compreensão de nossa história pessoal, mais nos tornamos preparados para ajudar nossos pacientes com suas demandas.

02. Vivenciar as técnicas da Terapia Familiar

Uma forma de aprofundar e compreender a própria história é participar de exercícios vivenciais e técnicas sistêmicas (por exemplo Genograma, Genograma da Missão, Genograma Cruzado, Linha do Tempo).

Vivenciar a técnica traz clareza a respeito das próprias demandas e dificuldades, é uma oportunidade para ressignificar as marcas que recebemos da nossa família, iluminando o caminho a ser percorrido.

O Terapeuta Familiar que trabalha suas próprias questões, sua própria história, quando se utiliza desses mesmos instrumentos em sua prática clínica, consegue ampliar sua percepção e identificar as questões e necessidades do paciente com mais clareza.

03. Observe as demandas repetidas

É muito comum ouvir de colegas Psicólogos que as demandas se repetem, que recebem vários pacientes com questões parecidas. Nesses casos é importante o psicólogo revisitar a sua história familiar para descobrir, às vezes redescobrir semelhanças ou diferenças que podem mobilizar o atendimento terapêutico.

É um mergulho incansável na própria história familiar para avançar no processo de desenvolvimento e contribuir no crescimento do paciente.

04. Participe de supervisão ou estudos de casos

Participar de uma supervisão, individual ou em grupo, possibilita o aprofundamento, a reflexão e amplia a compreensão do caso. A troca em grupo, é uma oportunidade para olhar uma situação sobre várias perspectivas e construir um planejamento estratégico para que a atuação do terapeuta familiar tenha resultados funcionais e eficazes.

Ouvir colegas com suas vivências e experiências enriquece o processo de formação do Terapeuta, e normalmente nos remete a nossos casos em atendimento e nossa prática clínica.

Acreditamos que para uma atuação consistente, efetiva e satisfatória, devemos investir:

1) no aprofundamento da linha teórica, através de leituras, participação em cursos e formações;

2) na própria terapia;

3) na supervisão técnica dos atendimentos.

05. Não seja “só” Psicólogo!

Vivemos em uma sociedade onde trabalhar sem limites, ser produtivo, é algo estimulado e muito valorizado. A discussão sobre produtividade pode ser longa!

Acreditamos que para termos um bom desempenho na área profissional, precisamos ter espaço para exercer outros papéis em nossa vida, ter tempo para descobrir outros interesses, como a expressão de um talento, momentos de lazer e tempo para realizar outras atividades como: praticar esporte, fazer uma massagem relaxante, sair para dançar, caminhar sem pressa por um lugar bonito… essas e tantas outras formas de “desligar” e “limpar a mente,” diante das diferentes demandas profissionais que recebemos no dia a dia.

A espontaneidade e criatividade andam em direção oposta da pressão e cobrança, precisamos de espaço e tempo para nos cuidarmos e permitir que sejamos cuidados. Tem sido recorrente encontrar colegas de profissão esgotados, indo além de seus limites, precisando olhar e cuidar de si.

Conclusão

Ser Terapeuta, ser Psicólogo nos convida a um constante mergulho na própria história familiar para que possamos ampliar a consciência a respeito das nossas escolhas, da forma que nos relacionamos com as pessoas e com o trabalho.

Precisamos nos acolher, estarmos atentos a nossas necessidades e demandas, sermos generosos conosco, para termos condições de ajudar o outro e conduzir a vida pessoal e profissional de forma agradável e satisfatória.

Conflitos em família: como a Sistêmica pode ajudar a resolver?

Ampliar a visão do conflito familiar além das características individuais de cada um traz diferentes possibilidades de interação e desenvolvimento.

Viver em família, muitas vezes, é nossa dor e nossa delícia! É nela que encontramos nossas referências, costumes e heranças. No entanto, é nela que sentimos nossas dores, faltas e frustrações.

Assim também é com nossos pacientes. Muitas vezes uma pessoa procura a ajuda de um Psicólogo quando se vê com dificuldades para resolver alguma questão, e a angústia toma conta.

Para contribuir com esta pessoa, que em geral está num momento de fragilidade, é importante ter uma visão de seu contexto: quais as dores e marcas em seu processo de crescimento, e qual a qualidade de suas relações familiares.

A Terapia Familiar Sistêmica nos dá essa perspectiva, de analisar o contexto, as relações familiares o momento do ciclo de vida que os conflitos surgem, indo além de suas características individuais.

Como surgem os conflitos familiares?

É natural, porém não necessariamente agradável, que as famílias tenham conflitos. Estes costumam estar relacionados às fases que a família está vivendo (Ciclo de Vida Familiar).

Por exemplo, quando um casal inicia a vida a dois, muitos ajustes são necessários para estabelecer relações de boa convivência. Negociações precisam ser feitas, em geral cada um traz de sua Família de Origem (família onde nasceu) seus padrões e formas de perceber o mundo.

Nesse momento, estão formando uma Família Nuclear, estabelecendo um jeito próprio e único de funcionar, com suas regras e acordos. Com a chegada dos filhos, as demandas mudam e alguns acordos que foram feitos, precisam ser revistos e modificados. Assim segue por cada etapa da vida desta família.

De que forma os psicólogos sistêmicos podem auxiliar na resolução dos conflitos familiares?

Compreender as características da interação familiar, das dificuldades que permeiam cada fase do ciclo de vida, identificando as demandas e necessidades da família. Por exemplo, quando se tem filhos pequenos, a família precisa protegê-los e ao mesmo proporcionar autonomia de acordo com sua fase, para seu desenvolvimento físico e emocional.

Na adolescência, a família deve ser mais flexível para estimular a construção da autonomia, preparando o adolescente para a vida adulta, onde terá maiores responsabilidades, para quando chegar na vida adulta poder conquistar independência financeira e emocional.

Outra forma que o Terapeuta Sistêmico pode colaborar com a família, é clarificar os padrões, regras e lealdades familiares. Buscar a história familiar em três ou quatro gerações, traz informações muito ricas para a compreensão de quais questões estão interferindo no processo de construção da família nuclear.

Enfim, para que o Terapeuta Sistêmico possa colaborar na resolução dos Conflitos Familiares, precisa considerar diversos fatores, além das características individuais de seus membros, tais como: fase do ciclo de vida familiar que estão vivendo, realidade sócioeconômica e cultural, história das famílias envolvidas, forma de se relacionarem.

Ampliar a visão do conflito familiar, indo além das demandas isoladas, possibilita diferentes interações e proporciona espaço para o crescimento e desenvolvimento da família e dos seus membros. Existem diversas técnicas projetivas que expande a percepção de como as famílias se relacionam, por exemplo: o Genograma, Genograma da Missão, Genograma Cruzado, a Linha do Tempo, entre outros.

Desafios do Psicólogo e Terapeutas Familiar Sistêmico

Um dos desafios do Psicólogo e Terapêuta Familiar Sistêmico é se disponibilizar para ouvir o outro, com todo cuidado e respeito, sem julgamento, sem misturar a sua hitória familiar, os seus condicionamentos, suas fragilidades e vulnerabilidade com as demandas do paciente.

Procuramos nos reconhecer como terapeutas humanas e estamos aprendendo, nos desafiando e nos desenvolvendo em nossas relações familiares, sociais e profissionais, acertando e errando, considerando o erro e acerto muito relativos, afinal tudo depende do ponto vista e do contexto.

Na nossa caminhada, vivendo nossos dilemas como todo ser humano que nasce e cresce em um contexto familiar, que nos deixa marcas e direciona nossas escolhas, elegemos cinco desafios a serem superados para desempenhar o papel de Psicológo e Terapeuta Sistêmico:

  • Escolher, apronfudar e praticar nos atendimentos clínicos uma linha teórica que faça sentido em sua vida pessoal e profissional.
  • Compreender, vivenciar e praticar a teoria escolhida, promovendo a saúde e autonomia na vida das pessoas que buscam ajuda. A eficácia está relacionada com a sua habilidade de aproximar o teórico do vivencial.
  • Tomar consciência do seu processo de desenvolvimento, conhecendo sua história familiar, buscando pertencer e se deferenciar de sua família de origem.
  • Cuidar dos próprios dilemas humanos para ampliar as possibilidades de identificar as questões do outro.
  • Perceber o outro em seus dilemas relacionais e desenvolver estratégias de mudança, levando o paciente a se conectar com sua essência e saúde, tomando consciência das barreira e limites que tem em sua vida.

Consideramos importante o movimento de descobrir e redescobrir as marcas, dores e sofrimentos que possam impedir a realização de ser quem somos.

E para sermos terapeutas não podemos ter medo de megulhar em nossa história familiar, em um movimento incansável de seguir em frente com leveza, ofertando a sua melhor versão para as pessoas que ama e para o trabalho que escolheu desempenhar.

Participar de encontros que promovam reflexão, interação, que possam acolher e ajudar a despertar o seu olhar para seu processo de vida com o compromisso de cuidar de si e do outro, sem o desejo de salvar o outro, mas de dar a mão e dizer “eu posso caminhar com você, enquanto não consegue fazer isso sozinho”.

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